Avançar para o conteúdo principal

Pastéis de Tentúgal


Quando estava grávida de mim e da minha irmã, a minha mãe fartou-se de comer doce de ovos e ovos moles.
Eu gostava de ter uma história muito gira sobre como tive uma sensação de déjà vu, sobre o quanto sempre adorei doce de ovos ou sobre como sempre abominei doce de ovos. Mas só provei muito recentemente. Sob a forma de pastéis de Tentúgal.
Sim, já tinha tido pastéis de Tentúgal disponíveis, mas vi alguém (difícil adivinhar quem) a comer e fiquei desiludida porque pareciam ter algo mais entusiasmante do que aquela coisa-estranha-e-meia-sólida no meio que era (adivinhem!) doce de ovos. Que por acaso nunca tinha provado. Excepto no meu período pré-nascimento. 
De qualquer das maneiras a minha mãe adora tudo o que tenha doce de ovos pastéis de Tentúgal, e sendo o aniversário dela achei que até merecia uns caseirinhos, já que andou a alimentar-me a doce de ovos durante 9 meses.
E sim, gostei do doce de ovos.
Não que não soubesse melhor se estivesse a boiar numa confortável bolsa de líquido amniótico ;)







Pastéis de Tentúgal
Adaptado daqui
Para 4 pastéis

Ingredientes:

Para o doce de ovos:
320 gr. de açúcar
250 ml de água
12 gemas de ovo
Para os pastéis em si:
2 folhas de massa filó (1/2 embalagem comum, 60g)
2 colheres de sopa de manteiga sem sal
Açúcar em pó (a gosto)

Preparação:

Doce de ovos:
| Juntar num tacho a água e o açúcar.
| Levar ao lume sem mexer* .
| Deixar ferver até atingir o "ponto de pérola" - a temperatura da calda deve ser de 108 graus Celsius, e ao deixar escorrer em fio pela colher deve-se formar uma esfera na ponta (eu não tenho termómetro, usei o teste da colher.).
| Deixar arrefecer um pouco.
| Entretanto, passar as gemas por um coador, uma de cada vez, para remover a película que as envolve - furar com um garfo e agitar um bocadinho, esperando que o líquido passe, sem mexer/esmagar para passar.
| Deitar um pouco da calda de açúcar nas gemas, mexendo muito rapidamente para que não cozam.
| Acrescentar o resto da calda num fio, sem parar de mexer.
| Transferir para um tacho e levar de novo a lume brando.
| Sempre a mexer, deixar que engrosse até ficar com a consistência desejada.
| Guardar no frigorífico, num recipiente hermético.

"Pastéis em si":
| Cortar cada uma das folhas de massa filó em 4 partes iguais.
| Pincelar um quarto de folha com manteiga sem sal derretida e colocar o outro por cima.
| Pincelar com manteiga de novo.
| Rechear com 1/4 do doce de ovos.
| Embrulhar, enrolando, as folhas em volta do doce de ovos e pincelar a extremidade com manteiga.
| Dobrar as pontas para cima e selar, pincelando novamente.
| Repetir o procedimento até ter 4 pastéis.
| Colocar num tabuleiro forrado com papel vegetal e levar ao forno pré-aquecido a 180 graus.
| Polvilhar com açúcar em pó.

*Esta é a instrução unânime das receitas; supostamente mexer promove a cristalização. Se necessário, dever-se-ia agitar a panela (em vez de mexer com uma colher). Eu acho que é porque pode cristalizar devido ao contacto com o metal frio, portanto usei uma colher de pau e mantive a ponta mergulhada na calda desde o início para não estar a reinserir demasiadas vezes. Não gosto de não mexer e achei um bocado contraditório, porque acabo por ter de usar uma colher para testar os pontos.




Nesse dia fiz imensa coisa (mil folhas, éclairs de café, éclairs de manteiga de amendoim) (que não se note muito a preferência ;)), mas os Pastéis não brilharam menos por isso. Foi precisamente por ter feito muita coisa que fiz poucos. Eu gosto de receitas que não dêem doses enormes...
Quando fiz a primeira calda tive problemas que acabaram com ela a ser despejada pela pia, portanto tive de repetir. Houve uma pesquisa desesperada que não deu resultado, mas da segunda vez mudei algumas coisas e correu muito bem. A receita está escrita de modo a encaminhar quem a ler na direcção de uma calda de açúcar perfeitamente não cristalizada, obviamente. Com termómetro seria bastante mais fácil, mas eu não tenho. 
Também há receitas de «ovos pobres» ou alguma coisa do género, que usam ovos inteiros e em menor quantidade. Eu preferi assim, porque se é para fazer doce de ovos que seja para usar uma quantidade absurda de gemas. 
Passar as gemas pela peneira é mais ou menos opcional... Evita um gosto forte/estranho a ovo. Demora algum tempo a escorrer e é um bocado chato por serem muitas gemas, mas acho que vale a pena.
Entretanto também provei os Pastéis «a sério», mas agora os meus serão sempre «o original»... ;) Até era parecido no sabor do doce de ovos e naquele ligeiro gosto típico dado pelo açúcar em pó; a maior diferença é que os meus estavam mais crocantes e os «vendidos» são mais moles e um bocadinho mais enjoativos (eu, personificação da imparcialidade, gostei muito mais dos meus.). Eu gostei muito e a minha mãe também! A massa fica crocante, tem o sabor tradicional do açúcar em pó e há o contraste do doce do doce de ovos, que também tem um sabor muito agradável e típico. 
Com esta receita participo no desafio «Há Vida Para Além da Massa de Atum» (título de Best Seller), organizado pelos blogs A Cozinha da Ovelha Negra e Coisas e Coisinhas. Quis participar com esta receita porque é bastante simples, rápida e com poucos ingredientes, que ainda por cima são todos coisas básicas. 
O tema do desafio é sobremesas de Outono - esta não é a típica combinação outonal de abóbora ou maçã, nozes e canela, mas não sei porquê faz-me lembrar imenso o Outono. Ligo o açúcar em pó a esta estação, assim como os doces de forno e o doce de ovos (bem como os ovos em geral, por alguma razão que desconheço). A derradeira ligação é as folhas das árvores, que ficam crocantes, estaladiças e deliciosas no chão nesta estação do ano. Assim como os Pastéis de Tentúgal. 
Eu estava mesmo convencida de que era tipicamente outonal, mas, quando perguntei à minha mãe com que estação do ano os relacionava, ela disse:
«- Primavera.»
O que é obviamente idiota. 
(Acho bastante claro que quem não ingeriu doce de ovos antes de ter pés não está qualificado para opinar sobre este assunto.)

Comentários

  1. Parecem mesmo apetitosos, muito bom aspecto :)

    ResponderEliminar
  2. Daqui escreve-te uma grande comedora de pepino com sal enquanto ainda estava em desenvolvimento (nunca gostei de pepino), uma amante de doce de ovos (vai já comprar o meu livro e fazer os queques de noz com doce de ovos e diz-me se a tua mãe não vai ao céu) e uma desapontada com os pastéis de Tentúgal porque pensei que eram do género dos travesseiros de Sintra e afinal levam uns 1000 a 0:

    Isso deu-me vontade de experimentar. Tem bom aspecto. Quero. Manda. Troco por um queque de noz com doce de ovos :D

    Beijinhos ;)

    ResponderEliminar
  3. Olá Avelã,

    pois eu gosto bastante deste docinho, e confesso que gosto de todos com docinho de ovos, mas atenção que dois chega-me é que depois fico cheia de sede e com a sensação que comi um cozido à portuguesa, acontece o mesmo com tudo que seja demasiado doce, doces conventuais claro, mesmo as natas e bolas de berlim gosto delas frias para não ser tão pesado.
    A tua mãe mereceu com toda a certeza cada doce que lhe fizeste, sortuda, e parabéns:)
    Ficaram perfeitos, parecem mesmo saídos de uma pastelaria.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Adoro esses pastéis recheados com doces de ovos. Claro que, com uma história de vida como a tua, não tinhas alternativa se não gostares dessas delícias!!,rsrs. Ficaram lindos e comem-se bem em qualquer estação.
    Bjn
    Márcia

    ResponderEliminar
  5. Olá!
    Ui, estes pastéis com o seu recheio de doces de ovos são uma grande tentação!
    Gostei muito do aspeto. Quanto ao sabor...imagino-o divinal :)
    Beijinhos*
    Vanda

    ResponderEliminar
  6. Gosto tanto destas sugestões. Ficou uma delicia.

    ResponderEliminar
  7. Confesso que também adoro doces que levem doce de ovos, infelizmente (ou felizmente) na madeira não é muito habitual hahah
    mas estou a ver que esse dia foi dedicado muito bem a cozinha!! E garanto-te que se tivesse falhado isso dos doces ja tinha atirado tudo pelo ar e saido da cozinha hahha

    ResponderEliminar
  8. Eu adoro doce de ovos e sou quase especilista! As minhas especialidades são uma torta de amêndoa com recheio de doce de ovos, pão de ló de alfeizarão e, claro, toucinho do céu (que não é bem doce de ovos mas também leva muitas gemas e é delicioso).
    Os teus pastéis estão perfeitos e estou a pensar fazer para os meus anos (em que vou comer tudooooo o que me apetecer!)
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  9. Deixei-te um desafio lá no blog:http://dietaparatotos.wordpress.com/2014/11/08/um-dia-na-vida-de-uma-fitblogger/
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  10. Olá avelã,

    Eu já vi este post mas não comentei ainda... Hoje é o dia de dedicar o meu tempo a esses teus pastéis de tentúgal :-)
    E que pastéis :-) As fotos estão muito boas, muito nítidas, esse cremezinho, o açúcar em pó... Humm... Tem um aspecto divinal! E adoro a tua persistência, de tentares, de treinares, de te aperfeiçoares até achares que está no ponto, ou quase vá... É uma boa qualidade, penso eu!!!
    E os éclairs, ai os éclairs... Por acaso é bolo que já não como à muito... Mas porque também é um bolo que tem muito que se lhe diga... Porque existem pastelarias que sejamos sinceras, é uma valente porcaria... Eu por acaso só tenho 1 aqui perto que gosto de comer eclairs...
    E pronto... Abriu-me o apetite estes teus pastéis... Sem dúvida!
    Beijinhos grandes e continuação de boa semana***

    ResponderEliminar
  11. Para começar, devo dizer que adoroooooo doce de ovos!!! E não, acho que a minha mãe nunca teve desejos desses enuanto estava grávida de mim :P hehe Tentúgal é mesmo ao lado da minha querida terra natal e, como tal, sempre comi pastéis de tentúgal dos bons e verdadeiros :P E sempre adorei!! E devo dizer-te que, os teus, ficaram com um ótimo aspeto! Mesmo bem feitinhos e bem embrulhadinhos, tal e qual os pastéis de tentúgal originais! Desafio superado Avelã :D hehehehehe Mais do que isto tudo, fico super contente por finalmente teres participado no desafio :P
    Beijinhos *

    ResponderEliminar
  12. Adoro os teus textos, é oficial!!
    Eu gosto de doce de ovos, mas não em demasia.. tem que ser qb!
    Estes pasteis estão mesmo com boa cara, aposto que a tua mãe adorou!! Podias mostrar umas fotos dessas iguarias todas juntas, para ficarmos a salivar ainda mais!! :)

    ResponderEliminar
  13. Olha que começar um texto assim "Quando estava grávida" é de deixar uma pessoa de olhos em bico ahah :p
    Quando ouço falar dos desejos de grávida lembro-me automaticamente da minha madrinha a comer baldes de baldes de figos quando estava grávida :p

    Provei os Pastéis de Tentúgal uma vez e não achei nada de extraordinário, apesar de me terem avisado que aqueles era de uma pastelaria super xpto e que eram divinos. Expectativas derrotadas que o meu paladar não foi feito para bolos de pastelaria - excluindo as Bolas de Berlim que são um amor de longa data :p
    Sempre achei doce de ovos extremamente enjoativo e para eu achara algum doce enjoativo é preciso muito! xD
    Estás uma verdadeira chef, fazer este tipo de receitas para mim é algo extremamente difícil mas fazer parecer do mais fácil possível!
    Apesar de não ser a maior adepta destes doces, tenho de dizer que não deixa de ter um aspecto BOOM! :D

    ResponderEliminar
  14. Isso é que foi cozinhar com coragem! Há por aí coisas que me intimidariam de fazer!! Os pasteis, são uma delas, claro!! Ficaram lindos!!!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Produtos #91 - Pudins Proteicos do Lidl (Baunilha/Chocolate)

Hoje o post é sobre a febre do momento: os pudins proteicos do Lidl :P Para quem não está a par, há algumas semanas começaram a aparecer nos supermercados portugueses da cadeia Lidl uns pudins proteicos muito parecidos aos da Ehrmann. Estão disponíveis em duas versões: baunilha e chocolate . Cada pudim ( 200g ) tem cerca de 150kcal e 20g de proteína e custa 0.99€ . Não têm açúcar adicionado , e são isentos de lactose e de glúten .  Por vezes recebo comentários a referir que o teor de açúcar não é nulo (4g/100g) , mas é importante referir que este açúcar é naturalmente presente . Os iogurtes naturais não adoçados têm uma quantidade de açúcar semelhante. Outro ponto importante a referir é que a proteína também vem do leite , que é uma fonte de qualidade (por ser completa, ao contrário por exemplo do colagénio ou glúten). Antes que fiquem excessivamente entusiasmados, devo dizer que encontrá-los não é tarefa fácil: a procura anda ao nível dos skyr na altura em que foram lançados (

Produtos #95 - Novos Iogurtes do Lidl (20g de Proteína)

Hoje venho falar da nova gama de iogurtes proteicos da Milbona disponível no Lidl . Tratam-se de potes de 200g (num formato parecido ao dos pudins!), que custam 0.79€ . Estão disponíveis em 4 sabores : pêssego & laranja ; ginja & arónia ; framboesa e romã ; mirtilo . Cada unidade tem cerca de 130kcal e 20g de proteína . Não têm adição de açúcar , e são desnatados , pelo que são baixos em gordura. Abaixo vou deixar fotos do rótulo (ingredientes e tabela nutricional) de cada um dos sabores. Vou deixar também a minha opinião, por ordem de preferência. A minha opinião geral: ficam a léguas da gama de quark proteicos da Milbona também disponível no Lidl (em embalagens quadradas de 180g, nos sabores baunilha/morango/pêssego-maracujá/framboesa). Esses são mais densos (o que eu prefiro), e fora isso têm uma textura menos enjoativa.  Eu sei, eu sei - 'enjoativo' é um adjetivo estranho para descrever uma textura. Mas estes iogurtes novos têm uma textura algo farinhenta, talv

Papas de Weetabix (Saudável, Sem Gordura/Açúcar Adicionado, Sem Lactose, Vegan)

Antes de provar papas de aveia pela primeira vez achava o conceito um pouco estranho. A palavra 'papas', como é óbvio, não ajudava, e na altura nem sequer estava muito familiarizada com a aveia de todo. Quando decidi experimentar, procurei receitas na internet e escolhi uma à sorte - usei casca de limão e um pau de canela, ingredientes que são recorrentes na maior parte das versões mas que entretanto deixei de usar. A partir daí deu-se o encantamento clássico de quem prova uma receita tão boa, que me fez preparar papas de aveia praticamente todos os dias ao pequeno-almoço. Desenvolvi um conjunto considerável de receitas, e eventualmente cheguei ao pensamento que obrigatoriamente se seguia: 'se resulta com aveia, deve resultar com outros cereais... Certo?'. A maior parte das experiências revelaram uma resposta positiva, e com o entusiasmo comecei a variar imenso o estilo de papas. Experimentei papas de centeio, de espelta e de trigo integral, apreciando bastante t